quinta-feira, 26 de março de 2015

A involução dos contrários

a Octavio Paz

inspiração expiração
inspiração expiração
inspiração expiração
inspire            expire 
inspire            expire
inspire            expire 

se você ficar repetindo 
o movimento
que você é
durante horas
mudo
cego
surdo e tudo mais
o que acontece?

ser e não-ser
no sempre presente
fluxo
que você é
e não é



movimento no tempo
mudança contínua
tudo se transforma
tudo transforma
movimento contínuo
respirar é ser

inspire expire
interiormente
até não pensar
leve
penugem no vento
a última imagem primeira

nada
tudo

mas se você quiser ver alguma coisa?
como
seu desprendimento 
o fluxo
o movimento
levando-o
a novas imagens
sem parar?

melhor não desejar
desejando
ao fluxo
do não-tempo
não cabem imagens
pois todas estão lá

viver
a mudança
ser tropismo
homem-muda
é
ins
piração
ex
piração

a repetição inicial
convence sua inconsciência
a participar
você vai acreditar
incrédulo
com e sem ciência 
que a verdade
é o não-é
pode ser
com certeza

mas a danada da razão
vai obrigá-lo
interrupção
saia daí menino!
e você abrirá os olhos
e você estará ai
onde agora está

seu corpo
voltará a funcionar
como sempre esteve

mas tudo já não será o mesmo
pois a mudança não pára
e você simplesmente
se distanciará de si

afinal
o que você respira
é o movimento 
cada átomo
ao seu redor
é o movimento 
para todos os lados
pois tudo existe
tudo é
até o que não existe
apenas racionalmente
é

sendo
o ser não é nada
é o nada

e você assim mudará
silenciosamente 
já que a palavra não dá conta
de convencer
sua razão
o verbo apenas sugere
o indizível
a reinvenção da palavra 
apenas como chave
da emancipação 
constante

nada o deterá
tudo é possível
pois tudo e nada
já foi dito
são a mesma coisa


e o que você fará então?
nada?
ou tudo?
o que fará com sua consciência?
por que ela tem quer prevalecer?
para os outros?
para você?

perder o sentido
não é um paradoxo
é saber
o que você não conhece
também existe 
tudo existe


inspiração expiração
a razão o aprisiona
no limbo
pobre homem
que ignora o desconhecido
e por isso a limitação
também constante
sendo 
sem saber

e a vida sem sentido 
que se vive
por todos os lados
para todos os lados
limitada
ao sentido
racional
lógica hodierna
sem a qual
não seríamos
o que somos

e assim vivemos:
para ser
não podemos não ser
isto não é aquilo
eu não sou você
e todo mundo
quer ser alguém
e não consegue

desejo aprisionado
melhor seria nada desejar
e tudo ser possível
todos sermos nós mesmos
e os outros inclusive
dentro de cada um

a vida perderia o sentido 
atual
masmorra de corpos
que se desejam
perpetuando
sobrevivendo
aliviando apenas
a angústia

a vida seria plena ação
e a imobilidade
fundiria-se
com o instável
sempre
a atração
de tudo
por todos
continuamente
o prazer de sermos
tudo 
e nada
ao mesmo 
não-tempo
livre
de impedimentos

sua natureza
nossa natureza
esquecemos que somos a natureza
por causa da razão
que agora você critica 
por não lhe deixar saída 
diante do irracional

o homem carrega consigo
desde que existe
a expansão da consciência
e quanto mais ciente
menos sabe

e ele não sabe disso
acha que o conhecimento 
é apenas evolutivo...

quero ver você dizer que não
melhor ainda
não quero não
você no fundo sabe disso
melhor nada desejar
melhor o eu não prevalecer
melhor é termos todos nós
consciência da inconsciência

eu não sou ninguém
pois eu sou tudo
eu não quero nada
já que nada sou
o desejo é ilusão
porque o que você deseja


no fundo você já tem
você já é
você devia saber
que sabe

expire            inspire 
expire            inspire 
expire            inspire 
expiração inspiração
expiração inspiração
expiração inspiração
expiração inspiração

respirar é ser





Referência:
Livro bem-me-queres malmequeres
Autor Vitor Kawakami
imagem google 


Minha sensação ao ler um poema ou olhar para uma obra de arte é me maravilhar com as sensações e momentos do poeta/pintor.
Me sentir tocada pelas palavras e imagens me preenche.
O poema me maravilhou em um sarau que estive presente no início do ano e que foi declamado pelo próprio autor.
Espero que se sintam tocados por alguma parte, pelo todo.. por tudo ou nada.

abraços

Roberta

terça-feira, 24 de março de 2015

Os Porcos espinhos

Num lugar na floresta, vivia uma manada de porco-espinho. Eles frequentemente se evitavam, porque os espinhos de uns machucavam os outros. Entre eles, não havia muita aproximação. Não que não quisessem. Mas, quando se aproximavam, acabavam se machucando. E se afastavam, irritados uns com os outros.

Certa vez, entretanto, veio sobre aquela região um frio como nunca se tinha visto. A geada cobriu os campos. As noites eram de morte, tamanha a intensidade do frio. A manada de porcos viu-se ameaçada pela friagem que tudo congelava.

Só havia uma alternativa. Os porcos precisavam se aproximar para se aquecer. Do contrário, morreriam congelados. Só o calor da proximidade dos corpos poderia afugentar o frio e garantir a sobrevivência.

E foi assim que cada porco-espinho aprendeu a se aproximar cuidadosamente dos outros, sem deixar que seus espinhos machucassem os companheiros. Cada qual se esforçava o quanto podia para partilhar o calor fraterno, sem ferir o outro, para também receber o calor que o outro oferecia. Porque ficou muito claro o seguinte princípio: Se eu firo o outro com os meus espinhos, perco seu calor fraterno e morro de frio.

Naquela floresta, a vida tomou outro rumo. E nunca mais o frio ameaçou aqueles porcos.



fonte: site fiquefirme 


Pare... Sinta... Reflita... Viva!


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