a Octavio Paz
inspiração expiração
inspiração expiração
inspire expire
inspire expire
inspire expire
se você ficar repetindo
o movimento
que você é
durante horas
mudo
cego
surdo e tudo mais
o que acontece?
ser e não-ser
no sempre presente
fluxo
que você é
e não é
movimento no tempo
mudança contínua
tudo se transforma
tudo transforma
movimento contínuo
respirar é ser
inspire expire
interiormente
até não pensar
leve
penugem no vento
a última imagem primeira
nada
tudo
mas se você quiser ver alguma coisa?
como
seu desprendimento
o fluxo
o movimento
levando-o
a novas imagens
sem parar?
melhor não desejar
desejando
ao fluxo
do não-tempo
não cabem imagens
pois todas estão lá
viver
a mudança
ser tropismo
homem-muda
é
ins
piração
ex
piração
a repetição inicial
convence sua inconsciência
a participar
você vai acreditar
incrédulo
com e sem ciência
que a verdade
é o não-é
pode ser
com certeza
mas a danada da razão
vai obrigá-lo
interrupção
saia daí menino!
e você abrirá os olhos
e você estará ai
onde agora está
seu corpo
voltará a funcionar
como sempre esteve
mas tudo já não será o mesmo
pois a mudança não pára
e você simplesmente
se distanciará de si
afinal
o que você respira
é o movimento
cada átomo
ao seu redor
é o movimento
para todos os lados
pois tudo existe
tudo é
até o que não existe
apenas racionalmente
é
sendo
o ser não é nada
é o nada
e você assim mudará
silenciosamente
já que a palavra não dá conta
de convencer
sua razão
o verbo apenas sugere
o indizível
a reinvenção da palavra
apenas como chave
da emancipação
constante
nada o deterá
tudo é possível
pois tudo e nada
já foi dito
são a mesma coisa
e o que você fará então?
nada?
ou tudo?
o que fará com sua consciência?
por que ela tem quer prevalecer?
para os outros?
para você?
perder o sentido
não é um paradoxo
é saber
o que você não conhece
também existe
tudo existe
inspiração expiração
a razão o aprisiona
no limbo
pobre homem
que ignora o desconhecido
e por isso a limitação
também constante
sendo
sem saber
e a vida sem sentido
que se vive
por todos os lados
para todos os lados
limitada
ao sentido
racional
lógica hodierna
sem a qual
não seríamos
o que somos
e assim vivemos:
para ser
não podemos não ser
isto não é aquilo
eu não sou você
e todo mundo
quer ser alguém
e não consegue
desejo aprisionado
melhor seria nada desejar
e tudo ser possível
todos sermos nós mesmos
e os outros inclusive
dentro de cada um
a vida perderia o sentido
atual
masmorra de corpos
que se desejam
perpetuando
sobrevivendo
aliviando apenas
a angústia
a vida seria plena ação
e a imobilidade
fundiria-se
com o instável
sempre
a atração
de tudo
por todos
continuamente
o prazer de sermos
tudo
e nada
ao mesmo
não-tempo
livre
de impedimentos
sua natureza
nossa natureza
esquecemos que somos a natureza
por causa da razão
que agora você critica
por não lhe deixar saída
diante do irracional
o homem carrega consigo
desde que existe
a expansão da consciência
e quanto mais ciente
menos sabe
e ele não sabe disso
acha que o conhecimento
é apenas evolutivo...
quero ver você dizer que não
melhor ainda
não quero não
você no fundo sabe disso
melhor nada desejar
melhor o eu não prevalecer
melhor é termos todos nós
consciência da inconsciência
eu não sou ninguém
pois eu sou tudo
eu não quero nada
já que nada sou
o desejo é ilusão
porque o que você deseja
no fundo você já tem
você já é
você devia saber
que sabe
expire inspire
expiração inspiração
respirar é ser
Referência:
Livro bem-me-queres malmequeres
Autor Vitor Kawakami
imagem google
Minha sensação ao ler um poema ou olhar para uma obra de arte é me maravilhar com as sensações e momentos do poeta/pintor.
Me sentir tocada pelas palavras e imagens me preenche.
O poema me maravilhou em um sarau que estive presente no início do ano e que foi declamado pelo próprio autor.
Espero que se sintam tocados por alguma parte, pelo todo.. por tudo ou nada.
abraços
Roberta